domingo, 3 de agosto de 2008

a vida de Platónov .

«Quem é, que espécie de homem, em vossa opinião é esse Platónov? É um herói ou não?»
Obra de juventude, Plátonov contém já alguns dos elementos que iriam ser desenvolvidos nas peças posteriores e enriquecer-se, enriquecendo-as. Aqui, como nas outras peças, e de resto em toda a sua obra, Anton Tchékhov faz o retrato social de uma camada da sociedade russa de uma determinada época. Essa camada social inclui elementos da pequena nobreza arruinada ou em vias de o ser, alguns intelectuais elementos da burguesia em ascensão, no fundo, aquilo a que hoje chamaríamos a classe média, consciente da crise profunda da sociedade, mas incapaz de apontar saídas para vencer esta crise. Embora tenham a consciência mais ou menos clara de que vivem um período de ruptura, de que a vida não poderá continuar assim, não têm uma prespectiva clara de futuro. Limitam-se a sonhar com a mudança, com uma vida melhor e mais justa. Mas não passam daí. E parecem não perceber que os sonhos de uma vida diferente e melhor não bastam para mudar a vida.
Um traço característico das obras de Tchékhov, tanto dramatúrgica como ficcional, é a grande humanidade com que trata as suas personagens. Mesmo quando fazem as piores tropelias, não lhes grita, nem grita para mostrar ao espectador ou ao leitor como são terríveis as coisas que elas dizem e fazem. É como se dissesse a nós, espectadores: vejam, são apenas humanos, como vocês.
Mas são esses os dramas e as contradições inerentes à natureza humana que fazem a eternidade das obras de Tchékhov.


António Pescada in Manual de Leitura de Plátonov
Platónov de Anton Tchékhov
Teatro Nacional São João de 17 de Julho a 3 de Agosto

Sem comentários: