quarta-feira, 25 de junho de 2008

«E tudo isto fora o que a arte deve ser: insconsciente, ideal, distante. Um dia, um dia que por vezes considero fatal, decidi pintar de si um retrato maravilhoso, tal como você era de verdade, não com as roupas de épocas mortas, mas sim com o fato do seu tempo. Se foi o realismo do processo ou a simples maravilha da sua personalidade que me aparecia directamente, sem sombras nem véus, não sei. O que eu sei é que, ao trabalhar nele, pareciam revelar-me o meu segredo todas as pinceladas e todas as camadas de cores. Tive medo que outros viessem a saber da minha idolatria. Senti, Dorian, que me revelara demasiado, que pusera demasiado de mim nesse retrato.
(...)
Mesmo agora, não posso deixar de sentir que é um erro pensar que a paixão que se experimenta no acto da criação se vem a manifestar na obra criada. A arte é sempre mais abstracta do que julgamos. A forma e a cor falam-nos da forma e da cor, nada mais. Parece-me muitas vezes que a arte esconde muito mais o artista do que revela.»
in A Picture of Dorian Gray by Oscar Wild

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