O amor é como uma pequena planta silvestre que se instala atrevidamente no nosso jardim, depois vai crescendo e contagia todas as outras plantas que se deixam seduzir por todo o seu encanto e levemente vão descansar à sua sombra. Quando o sol raia nas traiçoeiras manhãs primaveris, eis que ela abre as suas pétalas e vê milhares de plantas iguais a ela, até parece que o próprio vento se rendeu ao seu encanto em cada vez que sopra ainda a torna mais bela. Quando chegam as frias chuvas do adiantado Outono, ela curva-se sobre o tronco e desliza suavemente até à raiz que já está preparada para a época que se avizinha, sabendo sempre que haverá dias de sol.
O amor não pode ser uma planta qualquer, tem de ser uma planta forte. Não pode ser uma erva daninha neste ou noutro jardim. As ervas daninhas não aguentam, umas murcham, outras morrem e as que ainda resistem são facilmente retiradas. O amor só pode ser estas plantas. Elas riem, falam, dormem e sofrem. As plantas choram. Tantas vezes elas fecham as suas pétalas despedaçando lágrimas para depois solta-las em pequenos pedaços só para que o pequeno jardim não fique triste ao vê-las chorar. Tal como o amor, estas plantas aparentemente transformam-se, uma vez abrem e brilham, depois fecham e murcham e por fim desaparecem...não se vê, mas estão lá.
Quando são brutalmente maltratadas ficam tristes, sem força, os seus corpos desvanecem sobre a terra, as suas almas são feridas em todo o seu ser. Quase se deixam morrer e ali ficam algum tempo. Depois regem, erguem-se e acabam por perdoar. E se for regada uma chuva mansa, os seus pequenos ramos abrem, o tronco enche-se e a raiz espalha-se como se nada tivesse acontecido. É nesse momento que o mundo pára para a ver. Quando alguém se aproxima, elas perfumam-se, ficam vaidosas sabendo que vão ser levadas com carinho e depois oferecidas com muito, muito amor.
"amor", teatro do montemuro
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